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// Silêncio

  • Foto do escritor: Karina Copetti
    Karina Copetti
  • 18 de out. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 28 de mai.

Do topo da montanha, fecho os olhos e foco minha dor no consolo desse silêncio. Imagino que esse deverá ser o som de Gaia quando o último de nós, seres humanos, formos varridos de sua superfície.


Silêncio para que ela possa, enfim, se regenerar.


Há um ente querido doente, em chamas. Mas se o que pega fogo é a perna seguimos a esquartejar o braço, perfurar o baço, desmineralizar até a última gota de sangue. Violento, não? Gaia é esse corpo. Não preciso da teoria de Lovelock, acreditada ou desacreditada. Para mim Gaia está viva, sabida muito antes disso pelos povos ancestrais e suas cosmovisões. Ela habita seu próprio corpo e espírito, por inteira. Esse ser ciente e senciente, hiper tecnológico. Quem já teve uma Miração sabe que a inteligência artificial não passa de uma imitação barata do abraço do Cipó. O aparato tecnológico de Gaia é estupendo, desde sua comunicação pela rede de micélio até a produção de seu próprio alimento. Realmente é bastante tecnológico criar a demanda da invenção de um trator para plantar soja para alimentar gado para alimentar humanos quando a própria planta [Glycine max] faz fotossíntese e, assim, seu próprio alimento. Ela mesma, seu próprio alimento - essa é a tecnologia das plantas. Mas querem nos fazer acreditar que o Agro é Tech. High Tech! Quem precisa de Gaia somos nós, para ela nós somos meros ruídos.


Entorpecidos de fumaça, matando a nós mesmos e a tudo ao nosso redor. Virando pesados sacos de sojas sendo transportados em estradas de minério de ferro que levam lixo tóxico para fabricação de baterias para alimentar telas que tiram fotos dos pratos - veganos, vegetarianos, carnívoros, onívoros, o que seja; indústria - contendo nanopartículas de soja.


Paradoxalmente nessa tela há também outras partículas: sorrisos, fotos do cacho de banana que brotou, do aniversário da minha mãe. Eu estou sufocando e tenho amado, dançado, criado laços. Tem dias que olho para o céu e finjo que está nublado. Mas ao menos um momento do dia eu inspiro bem fundo essa fumaça branca que me sufoca e choro. Para que? Não sei exatamente.


Mas se eu já não for capaz de sentir isso, não me faz sentido estar aqui.  


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