// O processo é Gerúndio
- Karina Copetti

- 30 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de mai.
Deixar-me atravessar fundo por tudo que tem direito de ser verbalizado. Escutar minutos depois que a autoafirmação dos desejos e limites a desespera. É quase insuportável não agradar o outro. Graças que uma das dádivas da vida é juntar desesperos. E solidões. Quem imaginaria que depois de tanto fugir tu mesma te trarias para casa. Fiquei comovida quando te vi naquele banco. Te re-vi desencostando da minúscula parede da cozinha para contar porque fostes embora. Ângulos sanos de amor. As transições quase que matam, mas lembra-te do que é capaz de fazer com um ovo. As culpas todas que carregamos não deveriam tirar a beleza das danças solitárias na noite, das milhões de velas que acendemos. Das horas sentadas no chão olhando para o nada. Das poesias declamadas no espelho. Da fé. Te vi trocar as pedras embaixo da árvore. Cheia de destinos. E medos. Ainda que não tenha contado, eu sei que naquele dia, enquanto chovia e faltava luz, tu questionava se fazia aquilo por ti ou pelo olhar dos outros. Escutei as juras. Enfiar a mão na terra que me tem. Gente quente. Te encontrei de chinelos procurando manga no mercado da esquina e já posso perguntar teus mais secretos desejos. Foi revirar a caixa, pegar o pedaço de papel em branco para, enfim, escrever sobre aquela fronteira rio,minas,são paulo. E se eu tivesse te dito no topo daquela montanha que enquanto chovia lá fora eu queria me desaguar em ti? A solidão revira os fundos. A pele se abre na porosidade de auto julgamentos que não passam de medos de boné e óculos escuros. E não sabemos como é viver na fantasia e na dor do outro. Em segurança, te vi voltar para casa. Casa-corpo-terra-território. As janelas abrem-se e fecham-se tantas vezes ao longo desse espiral que chamamos tempo. O processo é gerúndio. E mesmo eu dizendo que não me poria a reler o caderno, aqui estou. Sustentar o gesto da mão é sustentar o medo de viver. O alívio de sentir que nada é o que eu achei. Só o corpo. Tem sido seu tempo. De arder sem queimar.
Gosto de te ver nesses caminhos abertos pelo prazer. Úmidos. O que fica é esse raio de sol quente que agora me toca a pele e faz chorar. Por e pelo corpo.




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