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Pausar em segurança,

  • Foto do escritor: Karina Copetti
    Karina Copetti
  • 4 de nov.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de nov.

O tempo da pausa é o tempo da integração. É no tempo da pausa que vamos entrar em contato com símbolos e significados valiosos. O tempo da pausa, é o tempo do Corpo.


Arrumar a cama para saber que quando tudo na vida está em difícil desordem eu tenho um lugar seguro e bonito para repousar. [por Heera]


Quando vivemos um trauma, vivemos uma fragmentação. Perdemos algo e o corpo também perde: perde uma referência, um ritmo, uma forma de se organizar no mundo. Perde sua segurança, e então pausa. Às vezes em forma de exaustão, torpor ou silêncio. Uma sábia pausa biológica: o modo como o sistema nervoso busca se reorganizar depois de um impacto. 


Na Experiência Somática, entendemos então que o corpo precisa primeiro, justamente, sentir-se seguro antes de conseguir integrar uma experiência difícil. Imagine comigo: o corpo é como um amigo que carrega uma história profunda e dolorosa. Você contaria uma lembrança assim a alguém em quem não confia? A segurança é o terreno da cura. Sem ela, o corpo permanece dividido e preso - entre o impulso de seguir e a necessidade de se proteger.


Na prática somática, aprendemos a não apressar o corpo. Assim como um bebê precisa encontrar seu próprio impulso para se levantar, ao sentir-se seguro, e não ser forçado a andar, o corpo também precisa encontrar seu próprio tempo para confiar. Forçar o impulso, é ferir seu processo. É preciso primeiro pausar em segurança, para depois conseguir seguir. Essa pausa não é um erro, é sabedoria. É o modo que o corpo encontra para se proteger, para esperar até que seja possível sentir sem se despedaçar.


Na sabedoria suprema de nossa evolução como mamíferos aprendemos instintivamente a nos afastar daquilo que é desagradável e perigoso. Então, imagine agora que esse lugar é o corpo. Se tudo que acontece aqui é assustar demais, porque ficaríamos? Para ficarmos no corpo e sermos capazes de escutar as suas histórias - memórias implícitas, linguagem não verbal e não teorizada - precisamos, primeiro, pouco a pouco, nos sentirmos seguras.


Assim chegamos ao corpo e sua luxuosa poética paradoxal. Pausar não significa parar. O movimento acontece na pausa. As práticas de conexão com o corpo são o tempo da pausa. Entregar-se ao chão, sentir as texturas com a pele, mover-se lentamente. Pausar para sentir lugares de conforto no corpo. Prestar atenção na temperatura do vento, na água do banho, na planta do pé no chão, no peso dos ossos enquanto nos movemos pela gravidade. Dançar lento. Sentir o ar. Acariciar. As possibilidades são infinitas. E a beleza aqui é que essa lista é única, íntima e misteriosa. A diversão está em experimentar e experienciar. Quando o corpo encontra segurança, as experiências traumáticas encontram continente para serem processadas e integradas, e então o movimento da vida começa a retornar por si - gentil, espontâneo, natural.


Um lembrete: não ache que você está lendo o chamado de um post do Instagram: pausar / processar / integrar / curar. Não. Esse processo é um livro de longas páginas, leitura lenta, grande como um corpo e seus mistérios. Um processo não linear e bastante controverso. Ainda assim, com muita poesia para ser desvendada. 


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O luto é a vírgula entre fim e começo.

A paradoxal mirada da morte que nos abre os olhos para a vida. 

[Quando não restar mais nada a fazer: tomar sorvete].

O que se cura está no afeto.

No toque pele a pele de quem se percebe nu de respostas.

No sorriso de um que morde a taquicardia do outro.

No copo de água que não se nega.


O movimento é sagrado [eu me movo, eu me movo, eu me movo].


A vida não para. Acontece no meio da espera, do sonho, do tempo do bolo no forno, da dor nas costas, da lista de supermercado, do abraço no meio do estacionamento, do feijão recém cozido, do barulho da rolha saindo da garrafa. A morte não para. Acontece no meio da chuva e a chuva não para. Nem as flores. Não parou nem quando coloquei o celular no modo avião. Quando fiquei com medo ou completamente sem respostas. E naquele mesmo dia nasceu um bebe. Então de quantos sentires se faz a vida? Quantas danças, quantos cheiros, quantas bocas, quantos sorrisos? Quantos gozos são vividos? Quanto medos, quantos sorvetes, quantas saudades? Quanto afeto? Quanto Amor? 


O movimento é sagrado [eu me movo, eu me movo, eu me movo].


Depois, lá no Norte, peixe com açaí, uma bacia de manga e o profano Círio de Nazaré.


Em homenagem à minha grande amiga, Heera. Vive dentro de mim.

Ela se move, se move, se move - ela fica.



 
 
 

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