// Corpo é o Agora
- Karina Copetti

- 13 de set. de 2024
- 1 min de leitura
Atualizado: 28 de mai.
No número 6 daquele mês, um avião lançou-se para cruzar o Oceano. A terra, tentando segurar o que podia, apesar de que fugia, cantava nua e coberta de nuvens. Um rasgo ferido na sua superfície guardou enterrado uma pedra. A coincidência foi anunciada pela imaginação da criança com fiapos de manga entre os dentes. No exato número 6 do mesmo mês, lançaram-se palavras e um corpo terroso a cruzar os ares do não dito. Tamanha força, caíram na profundidade da fenda e tocaram a pedra. Era um pedaço dos ossos da terra. Que agora vibravam reafirmando seu último fragmento perdido recuperado. Reafirmando que o amor era são. Amor. Repete-se a palavra, enquanto por entre as frestas do dia o mundo arrebata. Arde o terror que engole a Faixa. O fogo na floresta, as casas lavadas, os corpos levados. Os rostos que nos olham no fundo do rio seco. Ainda há de existir frestas por entre as frestas.
Minúscula. Rezo. Remendo-me. A costura sangra duas luas antes. Antes ou depois. Entre as pernas, Corpo, é agora. E ele sempre encontra as frestas. Para estalar os músculos, desinchar as amígdalas.
Na escuridão do eclipse, pode-se avistar a Terra segurando um girassol na porta do desembarque. É preciso ler as páginas da seção de Amor. Os grilos já aprenderam a cantar na chuva e quem sabe a primavera no hemisfério Sul trace uma linha de giz a unir as estações. Nunca esquecer: também as páginas da seção de Amor.





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