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Trauma e Terapia de Experiência Somática

  • Foto do escritor: Karina Copetti
    Karina Copetti
  • 9 de abr.
  • 13 min de leitura

Atualizado: 28 de mai.

Trauma e Experiência Somática

Segundo Peter Levine, PhD em Física Médica pela Universidade da Califórnia e criador do método Somatic Experiencing®, o trauma não é o evento que nos aconteceu e sim o que o nosso corpo guardou desse evento, a experiência que ficou impressa. E não precisam ser eventos ou situações extraordinárias, podem ser acontecimentos ordinários, mas que foram intensos demais, aconteceram rápido demais ou precoce demais para o sistema nervoso de quem os sofreu. Ou ainda, acontecimentos que passamos em isolamento, sozinhos.


Sendo assim, o trauma tem cura, pois mesmo que não possamos modificar o passado, podemos integrar a experiência e a forma como nosso corpo lida com ela. O trauma não é uma doença ou um distúrbio, é um espécie de ferimento ou cicatriz dessa experiência que nos aconteceu. O trauma causa uma fragmentação do nosso ser. É como se pedaços de nós congelassem, se rompessem ou se perdessem por aí. O terrível do trauma não é o trauma em si, mas a traumatização. É o passado que não passa e que reaparece em muitas outras situações da vida fazendo com que não tenhamos escolhas de novas respostas emocionais, agimos inconscientemente como se o evento traumático ainda estivesse acontecendo. O trauma nos imobiliza em um estado de resignação, apatia ou colapso. Perdemos o impulso vital que nos move, o senso de direção, a confiança no mundo e em nós mesmos. Há uma perda da vitalidade, uma sensação de impotência que impede a pessoa de vislumbrar o futuro com esperança ou entusiasmo. Esse desmoronamento, essa derrota silenciosa e a perda de vontade de viver estão no âmago da experiência traumática.


O trauma também carrega a semente da cura. Ao acessar com segurança, e em pequenas doses, as sensações corporais e os padrões congelados que ficaram presos no sistema nervoso, é possível liberar essa energia e restaurar a vitalidade. O corpo sabe como se curar, desde que lhe seja dado o espaço, o tempo e o apoio necessários. Como diz Peter Levine: “O trauma é um fato da vida. No entanto, não precisa ser uma sentença de vida.”


Como o Trauma impacta na nossa vida

O trauma pode se originar a partir de uma ampla gama de experiências que são mais do que o sistema nervoso é capaz de suportar e rompem a sensação de segurança e integridade. Situações como violência, perdas e lutos, abuso emocional, acidentes, quedas, doenças graves, procedimentos médicos invasivos, estresse extremo, desastres naturais e guerras. Nem sempre o trauma está ligado a grandes eventos “objetivamente” traumáticos — experiências aparentemente pequenas, mas vividas em estados de vulnerabilidade ou solidão, também podem gerar trauma. O que define o trauma não é o evento em si, mas como o sistema nervoso da pessoa respondeu e se reorganizou a partir dele.


Segundo Peter Levine, criador do método Experiência Somática (Somatic Experiencing®), o trauma não está no evento, mas no corpo — mais especificamente, na resposta incompleta do nosso sistema nervoso ao perigo. Frente a uma ameaça, o corpo mobiliza energia para lutar, fugir ou congelar. Quando essa resposta natural de defesa não pode ser completada — seja porque fomos impedidos de reagir, porque fomos anestesiados, desacreditados ou porque a ameaça foi intensa demais — a energia mobilizada fica aprisionada no sistema nervoso. Essa energia congelada se manifesta de diversas formas comprometendo nosso bem-estar físico, emocional e relacional. O trauma pode afetar a capacidade de assimilar novas experiências, dificultar a presença no momento presente e tornar a vida cotidiana muito desgastante. É comum o surgimento de dores físicas crônicas, doenças autoimunes, distúrbios do sono, comportamentos autodestrutivos, vícios, alterações alimentares, depressão e ansiedade. Em um nível mais profundo, o trauma fragmenta a nossa identidade e rompe o senso de continuidade e pertencimento — é como se ficássemos à margem da vida, sobrevivendo em vez de viver. É como se saíssemos do nosso corpo, pois é muito doloroso estar ali.


Nesse estado fragmentado do trauma, perdemos o contato com a sabedoria intrínseca do nosso corpo – como ele conversa conosco e traduz grande parte da nossa dinâmica psíquica. A terapia de Experiência Somática oferece caminhos para liberar essas respostas incompletas e permitir que o corpo encontre um novo estado de equilíbrio e segurança. Assim, a terapia de Experiência Somática vai nos ajudar a reconstruir a conexão com nosso corpo e restaurar nossa inteireza em relação com a vida. 


O que é Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) e como ele se manifesta

O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é uma condição que pode surgir após a vivência de uma situação traumática — isto é, uma experiência percebida como ameaça extrema à vida, à integridade física ou emocional. O TEPT é uma resposta do sistema nervoso que ficou preso em um estado de alarme, mesmo após o término da situação de perigo. O surgimento do TEPT não se limita a vítimas de guerra ou grandes tragédias. Acidentes, violência doméstica, abuso (físico, emocional, sexual), negligência na infância, internações hospitalares, perdas significativas ou até mesmo experiências sutis e repetitivas de desconexão e insegurança podem causar essa condição. No TEPT, o sistema nervoso é estirado até o seu ponto de ruptura, deixando o corpo, a psique e a alma despedaçados.


Um dos sintomas mais comuns do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é a hipervigilância: um estado constante de alerta e tensão, como se o perigo estivesse sempre prestes a acontecer. A pessoa vive como se estivesse com o pé no freio e no acelerador ao mesmo tempo: exausta, mas incapaz de relaxar. O sistema nervoso, ao não reconhecer que a ameaça passou, continua operando em modo de sobrevivência, o que gera fadiga, insônia, irritabilidade, dificuldades de concentração, problemas digestivos e uma profunda sensação de insegurança. Essa hiperativação contínua impede que o corpo descanse, regenere e se autorregule. O sistema nervoso permanece ativado como se o evento traumático ainda estivesse acontecendo.


Principais sintomas do Estresse Pós-Traumático (TEPT)

1. Revivescência _ A pessoa revive, de forma involuntária e intensa, partes da experiência traumática. Pode ser por meio de flashbacks, pesadelos recorrentes, lembranças intrusivas, reações corporais como se o perigo ainda estivesse presente.

2. Evitamento _ Há um esforço consciente ou inconsciente para evitar qualquer coisa que possa lembrar o trauma. Isso inclui evitar determinados lugares, pessoas, conversas, memórias e até sensações corporais. O evitamento pode gerar isolamento social, rigidez emocional e desconexão com o próprio corpo.

3. Hipervigilância _ O corpo permanece em alerta constante, como se o perigo estivesse sempre à espreita. Sintomas comuns incluem ansiedade intensa, irritabilidade ou explosões de raiva, dificuldade para dormir, sobressaltos frequentes, sensação de estar “sempre ligado”, exaustão sem descaso.

4. Alterações no humor e na cognição _ Sensação persistente de culpa, vergonha ou inutilidade, incapacidade de sentir prazer, perda de memória relacionada ao evento traumático pessimismo em relação ao futuro, desconexão emocional com o mundo e com os outros.


É importante reforçar que o TEPT não é um sinal de fraqueza ou fragilidade, mas uma resposta biológica natural a um evento que ultrapassou nossa capacidade de processar e integrar. O corpo é muito sábio e usa dos seus melhores mecânicos para que possamos sobreviver, o que acontece no trauma é que façamos presos em uma dessas respostas. Mas não há nada a ser “corrigido” nas respostas intuitivas que foram dadas. O que precisamos é religar os circuitos de segurança para que possamos processar e integrar o evento traumático e assim voltar ao estado de regulação do sistema nervoso.


Como surge a Experiência Somática

A Experiência Somática é um método desenvolvido por Peter Levine, doutor em biofísica médica e psicologia, a partir de uma pergunta aparentemente simples, mas profundamente reveladora: por que os animais selvagens, mesmo constantemente ameaçados por predadores, quase nunca desenvolvem traumas?


Observando como esses animais lidam com situações de estresse extremo e risco de vida, Levine descobriu que a chave está na forma como o trauma é processado — ou, no caso dos animais, liberado. Ele percebeu que o trauma, nos seres humanos, está diretamente ligado à interrupção de respostas instintivas naturais. Em outras palavras, o trauma surge quando nossos impulsos de defesa, como lutar, fugir ou congelar, são impedidos de se completar. Essa compreensão parte do reconhecimento de que, assim como outros mamíferos, também somos guiados por instintos. Nosso cérebro mais primitivo — o chamado cérebro reptiliano — regula nossas respostas automáticas de sobrevivência, funcionando de forma muito semelhante ao dos animais que vivem na natureza.


Mas o que os animais selvagens nos ensinam sobre cura? Levine começou a observar como os animais lidavam com situações de extremo estresse e ameaça à vida. Ele percebeu que, após vivenciarem uma resposta intensa de luta, fuga ou congelamento, os animais realizavam movimentos espontâneos que pareciam descarregar a energia mobilizada durante o perigo. Essa liberação — que pode envolver tremores, suor, respiração profunda ou movimentos sutis — permitia que o sistema nervoso retornasse ao seu equilíbrio natural, sem carregar resíduos traumáticos. Seus corpos sabiam instintivamente como liberar o susto, a tensão, o medo. E foi ali, no gesto simples de um cervo que treme após escapar de um predador, que Levine reconheceu uma sabedoria profunda. Uma linguagem do corpo que ainda habita em nós, mas que muitas vezes silenciamos e interrompemos por fatores culturais, sociais ou cognitivos.


A Experiência Somática nasce desse olhar sensível e curioso. Um convite para escutar os murmúrios do corpo, para dar espaço aos movimentos interrompidos, às emoções contidas, aos ciclos que não puderam se completar. Não se trata de reviver o passado, mas de permitir que o corpo possa reencontrar seu caminho de volta à segurança e ao ritmo natural da vida. Como seres humanos somos vulneráveis a traumatização de uma maneira que os animais não são. A chave para a saída dessa condição está na característica que de forma mais clara nos distingue dos animais: a capacidade de perceber - conscientemente - nossa experiência interna e nossas sensações. 


O Trauma e a Desconexão Histórica entre Corpo e Mente

Stephen Harrod Buhner, em seu trabalho como Herbalista, aponta como o Cristianismo foi em muito responsável por mover os conceitos pagãos de que tudo era sagrado e a inteligência estava presente na Terra, como sendo um Ser senciente, para apenas a Trindade, com santos e anjos, como sendo os únicos seres sagrados. Incutiu que a natureza foi criada por Deus, para os homens, mais como um “recurso” a ser controlado e ordenado pelos homens. Esse pensamento, iniciado no Renascimento, levou a lógica da ciência moderna vendo o mundo sob o conceito do “Universo como uma máquina”. A famosa frase de Descartes, “Cogito, ergo sum” (“Penso, logo existo”), estabeleceu o pensamento como medida do valor humano, colocando a mente em oposição ao corpo. Essa visão ainda molda nossas vidas hoje, criando uma dicotomia entre pensar e sentir. A supremacia da mente muitas vezes silencia a linguagem do corpo, reforçando a ideia de que as palavras têm mais valor do que as sensações. A palavra deve ser uma ponte, não o único caminho por onde andamos.


Durante o Renascimento, René Descartes introduziu um modelo reducionista que moldaria a ciência moderna, vendo o Universo – e o corpo humano – como uma máquina. Para ele, a natureza era inanimada e sem alma. Esse pensamento fragmentado desconectou o ser humano de si mesmo, reduzindo a vida a uma equação matemática. Stephen Harrod Buhner nos alerta para as consequências desse paradigma. Quando aceitamos que tudo faz parte de uma máquina – incluindo nós mesmos – nos desconectamos do significado essencial da vida. Esse pensamento gera um desespero existencial, uma sensação de isolamento. Uma vez que o universo é visto como uma máquina, e não vivo, nós como seres humanos nos isolamos. Nós nos tornamos apenas “passageiros em uma bola de pedra semi fundida arremessada no universo” (BUHNER, 2002, The Lost Language of Plants). Esse paradigma também influencia a medicina moderna, que muitas vezes trata o ser humano em pedaços, ignorando a tapeçaria inseparável que une corpo e mente. Os sintomas físicos, assim como os sinais emocionais, fazem parte de uma dinâmica única que só pode ser compreendida como um todo.


O Nervo Vago e a Teoria Polivagal: entendendo como nosso corpo busca sentir-se seguro

Aproximadamente 80% das fibras do nosso sistema nervoso periférico são aferentes, ou seja, responsáveis por levar informações sensoriais do corpo para o cérebro e para o sistema nervoso central. Esse fluxo de informações inclui estímulos como temperatura, dor, toque, posição corporal e sinais internos dos órgãos. Sabe quando sentimos aquele “frio na barriga”, para depois percebermos que estamos com medo? Esse é o nosso cérebro primitivo, e é nele que o trauma se organiza e fica armazenado.


A Teoria Polivagal é uma abordagem fascinante para entender como o nosso sistema nervoso reage ao mundo, especialmente em relação à segurança, conexão social e sobrevivência. Ela foi desenvolvida pelo neurocientista Stephen Porges nos anos 1990 e tem sido muito utilizada em abordagens terapêuticas como a Experiência Somática. 

Nosso corpo está constantemente avaliando o ambiente ao redor para identificar se estamos em segurança ou não. Essa leitura acontece de forma automática, antes mesmo que a gente perceba conscientemente. A Teoria Polivagal nos ajuda a compreender essas respostas e a cultivar uma relação mais gentil e compassiva conosco.


Quando o sistema percebe que o ambiente é seguro, é o nervo vago ventral que entra em ação. Nesse estado, o corpo relaxa, o coração bate em um ritmo tranquilo e sentimos vontade de nos conectar com outras pessoas. É o estado da presença, da calma e do enraizamento no aqui e agora.


Se algo é percebido como ameaçador, o corpo pode acionar o sistema simpático, responsável pelas respostas de luta ou fuga. O coração acelera, os músculos se preparam para agir. Esse é um estado fundamental para a sobrevivência, mas pode se tornar desgastante se permanecemos nele por muito tempo.


Em situações de ameaça extrema — ou quando não há como reagir —, o corpo pode ativar o nervo vago dorsal, entrando no modo de congelamento ou colapso. É como se o sistema “desligasse” para nos proteger. Podemos nos sentir apáticos, desconectados, sem energia ou até dissociados.


É essencial entender que esses estados não são escolhas racionais. Eles são ativados automaticamente pelo nosso cérebro mais primitivo — o chamado cérebro reptiliano — como tentativas do corpo de garantir a nossa sobrevivência. São respostas reflexas, e não reflexivas. Não existe uma resposta “melhor” ou “pior” — todas são formas inteligentes e instintivas de proteção. Como diz Peter Levine: os eventos traumáticos fazem parte da vida. O problema surge quando ficamos presos em um desses estados, como se o perigo nunca tivesse passado. É isso que chamamos de traumatização: o corpo permanece em alerta, como se a situação ainda estivesse acontecendo. Com o tempo, isso pode gerar sintomas físicos e emocionais crônicos. Quando ficamos congelados em uma dessas respostas, tendemos a repetir padrões de comportamento que já não nos servem mais disfuncionais, pois na verdade, estamos presos em uma situação do passado e não temos a chance de escolher uma nova resposta no presente. 


A Experiência Somática vai trabalhar com as dinâmicas desses estados do sistema nervoso e com as memórias implícitas do corpo. É através dessas memórias implícitas - que não recordamos racionalmente - e das sensações corporais que vamos encontrando os caminhos para restabelecer a autorregulação do sistema nervoso. Durante intervenções somáticas, muitas vezes é possível completar respostas de luta e fuga interrompidas, desacoplar o medo ou sair dos estados de congelamento. Todos esses processos abrem espaço para a curiosidade, que, por sua vez, facilita a exploração de outras sensações e memórias.


Reconexão: O Corpo como Caminho para a Inteireza

Vivemos em um mundo que, muitas vezes, nos convida a desconectar — de nós mesmos, dos outros, da natureza. Usamos para isso as redes sociais, vícios, comida, álcool, comportamentos entorpecentes. Nesse contexto, a Experiência Somática surge como um convite gentil, porém profundo, à reconexão. Reconexão com o corpo, com o sentir, com aquilo que é mais essencial em nós.


A terapia da Experiência Somática nos propõe um retorno à escuta interna, à percepção refinada dos nossos ritmos, sensações e impulsos. Uma abordagem terapêutica que é um chamado para habitar o corpo com presença, reconhecendo-o não apenas como um veículo físico, mas como um território vivo, inteligente e profundamente sensível. Um corpo que carrega histórias, memórias, tensões e também potências. O corpo visto e sentido como próprio conhecimento acumulado. Um campo fértil onde nossas vivências se inscrevem e podem ser, com cuidado e acolhimento entidas, ressignificadas e integradas. Sentir o corpo como um território — corpo-natureza, corpo-selvagem — é recuperar sua dignidade e complexidade. É lembrar que somos feitos de pulsação, de respiração, de movimento, de silêncio. E que há algo profundamente curativo em nos voltarmos a ele com escuta, respeito e curiosidade. Reconectar-se ao corpo é um ato de soberania e de amor. É um caminho de volta para casa. Um retorno à inteireza que foi fragmentada por eventos traumáticos. 


Na prática da Experiência Somática, vamos aprendendo a afinar nossos sentidos, a legendar os sinais do corpo e a confiar em sua linguagem única. E ao fazer isso, abrimos espaço para que a vida possa fluir de maneira mais autêntica, mais livre, mais verdadeira. Afinal, somos essa dança contínua entre o sentir, o pensar e o agir.


A Experiência Somática como terapia de trabalho com o Trauma e Transtorno de Estresse Pós Traumático

Se o trauma não é um evento e sim uma experiência, a pergunta que vai nos levar até ele é: como você se sente a respeito dessa experiência?


O trabalho com a Experiência Somática é uma jornada de retorno à conexão entre corpo e mente. Ele está profundamente enraizado na sabedoria intrínseca do corpo como Ancião – dotado de um conhecimento que foi desenvolvido em milhões em anos de evolução. Nosso corpo – corpo mamífero – possui caminhos instintivos e ancestrais de preservação, sobrevivência e auto regulação. O corpo é nosso lugar de origem, nossa língua-mãe. Por isso, seu resgate começa com o relembrar de que somos esse corpo-natureza, de que ele possui memória, e guarda todas as nossas histórias, incluindo as histórias traumáticas. 


Só nos tornamos conscientes do que, em algum momento, foi percebido, foi sentido. Ao ouvir as sensações corporais, podemos nos perguntar: o que esta sensação está me dizendo? É nesta dimensão instintiva, nos sistemas mais primitivos do nosso cérebro – o cérebro reptiliano e o límbico – que o estresse e o trauma se organizam. E, portanto, são esses os lugares que precisamos, também, aprender a escutar. E não se trata de "corrigir" ou "consertar" nada, mas de ouvir o que ele tem a nos dizer, com paciência, gentileza e compaixão pela nossa história. É na capacidade de colocar atenção no corpo que estará a nossa habilidade de integração e cura.


Nas sessões de terapia de Experiência Somática vamos criar um espaço de pausa para observar as sensações corporais e suas narrativas. Sempre com muita gentileza e compaixão já que “sentir o corpo” é também um lugar bastante desafiador para nós, mamíferos, porque instintivamente somos orientados para nos aproximarmos do que é agradável e nos afastarmos do que é desagradável. Somos profissionais na arte da esquiva: desconectar da afetação profunda que a vida traz e das sensações difíceis que o corpo, às vezes, também nos traz. 


Mais do que buscar discursos lógicos, memórias explícitas e porquês, vamos conversar com lugares do corpo que guardam memórias implícitas, sensações, sentimentos. É onde vamos processar a experiência completa e não só a parte que racionaliza e interpreta, uma vez que é no corpo que temos a matéria prima do sentir. Uma mudança real em relação a vida, não é somente de uma nova forma de pensar, mas uma variação na forma corporal com que encaramos a vida. A Experiência Somática é uma escuta gentil corpo-mente. Uma conversa ampla que convida emoções e comportamentos, a fim de que tudo que nos permeia possa fazer parte da construção de novas crenças e significados e assim, de novas formas de percorrer os caminhos que a vida nos apresenta.


Resgatar a sabedoria do corpo é resgatar nossa própria inteireza. É lembrar que não estamos desconectados do mundo ao nosso redor – somos parte da natureza, e ela vive em nós. A terapia de Experiência Somática nos oferece um caminho para restaurar essa integração. Ao honrar nosso corpo como um ancião, portador de sabedoria ancestral, abrimos espaço para a cura e para uma vida mais plena e integrada. Através da terapia e da compreensão do trauma, podemos resgatar nossa essência e caminhar em direção a uma existência mais harmoniosa.


Trauma e Terapia de Experiência Somática para recuperar sua natureza.

 
 
 

5 comentários

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gIANA
25 de abr.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Muito legal!

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Convidado:
25 de abr.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Obrigada por compartilhar esse conhecimento!

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Ana Sofia Póvoa
Ana Sofia Póvoa
14 de abr.

💕

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Viviane de Cássia Ferreira
Viviane de Cássia Ferreira
11 de abr.

Parabéns e muito obrigada. Texto esclarecedor e bem escrito. Adorei.

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Membro desconhecido
10 de abr.

Que interessante! Grata por partilhar seu conhecimento

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