// Aos invisíveis
- Karina Copetti

- 6 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de out.
O que fica tem forma de barulho de casca de pão: invisível. Ao silenciar-se e encostar o ouvido, pode ouvir, jamais ver.
A sensação é de uma massa densa e grudenta. Vai ser preciso tempo para fermentar. É lento o sol que se põem, é lenta a baleia no mar, é lento o que se move por dentro. É lento o pão que fermenta. Acontece de o corpo ser a tigela - e depois vai ser o cesto e depois vai ser o forno. E ainda vai ser a boca. (Sempre começar a comer pelas bordas). Eu me lembro do dia que entrei na pausa do relógio do mundo - onde caem todas as instituições e sobra só um pássaro, um único pássaro e um único som. Depois já era uma bagunça imensa. Começa-se o trabalho de tentar etiquetar. Os estilhaços, as miudezas. O mais difícil são os invisíveis. É difícil etiquetar barulho de casca pão. Tem de se adentrar o silêncio e se deixar atravessar pela memória do som do pássaro. Agora é óbvio que as anotações antigas não servirão, mesmo que feitas para processo de mesmo nome. Nem a música, nem o gesto, nem o rito. Vai ser preciso reescrever. Cavar, molhar, moldar.
Despir-se de uma pele.
O que tu faz enquanto ninguém te vê?
A amplidão do vazio faz-me testar novos pontos gravitacionais.
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Em homenagem aos invisíveis que nos habitam. O que não podemos tocar com as mãos, mas algo em nós sabe que ali está. Os invisíveis são difíceis, as vezes não tem nome, e doem. Nos pedem paciência, compaixão, gentileza. Muitas vezes precisam os invisíveis só de um tempo de pausa e um ouvido.





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